- Pesquisa Datafolha mostra que 55% da população afirma consumir bebidas alcoólicas e 1 em cada 3 consome semanalmente
- Segundo o CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, o consumo abusivo do álcool cresce no Brasil, particularmente entre as mulheres.
- A cirrose hepática já ultrapassa os acidentes automobilísticos como a principal causa de mortalidade atribuída ao álcool no país, também segundo o CISA
- Pela pesquisa Datafolha, 56% da população não fez/faz exames diagnósticos para avaliação da saúde hepática. Segundo IBRAFIG, este é um dado preocupante, uma vez que cirrose alcoólica evolui de forma silenciosa– isto é, não apresenta sintomas até estágio avançado e necessidade de transplante.
São Paulo, Novembro de 2021. Pesquisa encomendada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG) ao Datafolha, realizada em setembro de 2021, revela que mais da metade dos brasileiros com 18+ anos consome bebidas alcoólicas (32% consome semanalmente) – desses, 44% consomem mais de 3 doses por dia/ocasião, dos quais 11% consomem acima de 10 doses/dia. Por dose padrão, entenda-se 14 g de álcool puro o que corresponde a 45 ml de destilado, ou 150 ml de vinho ou a 1 lata de cerveja.
“Não existe limite de segurança claro para consumo, devido à susceptibilidade individual ao álcool. De modo geral, para pessoas sem doença hepática, o consumo moderado – de 14 doses para homens por semana, ou 7 doses para mulheres por semana – pode ser considerado seguro; entretanto, para quem apresenta alguma doença hepática, ou mesmo gordura no fígado, o limite seguro é zero”, adverte o especialista Paulo Bittencourt, presidente do Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG). “Mesmo aquelas pessoas que bebem apenas aos finais de semana, conhecidos como bebedores sociais, têm risco duas vezes maior de cirrose, quando seguem o padrão de consumo caracterizado pela OMS como beber pesado episódico (BPE), isto é, mais de 4 e 5 doses de álcool por ocasião, respectivamente para mulheres e homens”.
Segundo o Panorama 2021 – Álcool e Saúde dos Brasileiros (*), editado pelo CISA, a média per capita do consumo de álcool pelo brasileiro está acima da média mundial. Consumo abusivo de álcool é relatado por 18,8% da população. Durante a pandemia, pesquisa da OPAS revelou que 17,2% dos entrevistados no Brasil declararam aumento do consumo abusivo, o qual foi associado a rendas mais altas e a quadros de ansiedade graves. Pesquisa da Fiocruz também mostrou que 24% dos entrevistados brasileiros que relataram sentimentos de tristeza e depressão aumentaram seu consumo de bebidas alcoólicas. “Nas festas de final do ano, geralmente, cresce o consumo pelo padrão de bebedor pesado episódico”, alerta Bittencourt.
Brasileiro e Consumo de Álcool – A pesquisa Datafolha mostra ainda que:
- Entre aqueles que afirmam consumir de 1 a 2 doses de álcool/dia ou ocasião, as mulheres (42%) consomem mais do que homens (32%)e mais do que a média nacional (37%), assim como pessoas acima de 60 anos (52%) e da região sul (48%, versus 21% no Nordeste). À medida que aumenta o consumo/dia, diminui a faixa etária – (10% -12% entre pessoas de 18 a 59 anos, contra 5% entre os de 60+).
- Entre os brasileiros que consomem três ou mais doses de bebida por vez, 44% são homens, percentual que sobe para 49% entre os homens nas classes AB.
- A maioria dos entrevistados acredita que consumo frequente de álcool lidera o ranking de causa tanto do câncer de fígado quanto da cirrose, mas a maioria (56%) negligencia sua saúde quando afirma nunca ter feito exame para avaliar dano do fígadorelacionado ao consumo de álcool.
Consumo de Álcool por Mulheres – Pelo levantamento do CISA, há uma tendência de aumento de consumo entre as mulheres. “As mulheres são mais susceptíveis a desenvolver cirrose e hepatite alcoólica”, informa Paulo Bittencourt. “Uso de mais de uma dose padrão de álcool por dia pode desencadear a doença hepática. Fatores que podem reduzir este risco, segundo o estudo UK Million Women, conduzido pela Oxford University, é o consumo de álcool em dias alternados, preferencialmente durante refeições e consumo exclusivo de vinho, em detrimento de outras bebidas alcoólicas”. O UK Million Women estudou o comportamento de mulheres por 20 anos, a partir de 1996, inicialmente com o objetivo de avaliar riscos associados a câncer (**).
Segundo o IBRAFIG, a maioria das pessoas que faz uso de bebidas alcoólicas não vai desenvolver cirrose e câncer de fígado. Além do uso abusivo do álcool existe susceptibilidade individual, fatores genéticos e ambientais, tais como doença hepática subjacente, obesidade e diabetes que aumentam o risco de dano hepático pelo álcool.
Ressaca – O excesso de consumo de bebida alcóolica não pode ser contrabalançado com chás, produtos rotulados como detox ou medicamentos chamados hepatoprotetores. Segundo IBRAFIG, estas medicações não oferecem proteção ao fígado contra os efeitos nocivos do álcool. “A recomendação é pelo consumo moderado e consciente, dentro dos padrões considerados como mais seguros, para quem não tem doença hepática. Entretanto, para quem passou ocasionalmente do limite, é importante compensar o uso abusivo com abstinência de álcool nos dias subsequentes, beber bastante líquido e se alimentar de forma adequada. O uso de analgésicos pode potencializar seus efeitos hepatotóxicos associado ao uso de álcool”, alerta Bittencourt.
Para diagnóstico da saúde do fígado, recomenda-se exames de avaliação de enzimas hepáticas (sangue) disponíveis nas redes pública e privada em todos os indivíduos que façam consumo abusivo de álcool, mesmo aqueles com padrão de Bebedor Pesado Episódico. Para saber mais sobre o assunto, acompanhe @tudosobrefigado nas redes sociais ou pelo site www.ibrafig.org.br
(*) https://cisa.org.br/index.php/biblioteca/downloads/artigo/item/304-panorama2021
(**) http://www.millionwomenstudy.org/introduction/
(***) Pesquisa – O Instituto Datafolha entrevistou presencialmente, entre 8 e 15/09/2021, 1.995 pessoas em todo o Brasil, acima de 18 anos, distribuídas em 129 municípios das cinco regiões do país. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.